A REBELDIA POÉTICA DE ARTHUR RIMBAUD
Arthur Rimbaud era considerado o “jovem Shakespeare” entre o círculo literário de Paris.
Arthur Rimbaud foi um meteoro da literatura — literalmente. Ele escreveu toda a sua obra dos 15 aos 20 anos, aposentando-se do ofício de escritor aos 21 anos, mas nunca deixando de ser um poeta. A metáfora do asteroide se encaixa perfeitamente em sua vida, tão intensa e polêmica quanto sua obra. Jean-Nicolas Arthur Rimbaud nasceu em Charleville, França, em 20 de outubro de 1854 e mudou-se para Paris aos 16 anos, com o intuito de inspirar-se e disseminar sua poesia pela capital francesa. No entanto, sua reputação ajudou a construir o fascínio de escritores e poetas parisienses para sua obra, e também para sua vida. As atitudes de Rimbaud eram alvo de indignação e desconforto para muitos que conviveram com ele nos três primeiros anos de sua estadia em Paris.
Paris: uma temporada no inferno
O jovem poeta era visto frequentemente na Comuna de Paris, o primeiro governo operário da história, a qual ele retrata em seu poema L’orgie parisienne (A orgia parisiense). No entanto, Rimbaud deixou de apoiar as reivindicações e passou a se considerar um anarquista, vivendo entre os bares e se divertindo chocando a burguesia. Segundo relatos, a razão de ter deixado a Comuna foi por ter sofrido violências sexuais de soldados alcoolizados. Após este período, Rimbaud foi morar com o poeta simbolista Paul Verlaine, que o convidou para residir em sua casa depois de ler a carta que o jovem escritor enviou a ele, mostrando exemplos de seu trabalho. No entanto, a admiração mútua levou a uma paixão destrutiva para ambos — Verlaine abandonou sua esposa grávida para viver com Rimbaud, mas a vida a dois trouxe tudo menos paz. Além da personalidade ultrajante do jovem poeta, Verlaine tinha problemas sérios com álcool e chegou a atirar em Rimbaud duas vezes. A relação dos dois escritores escandalizou todo o círculo literário francês, mas levou Rimbaud a escrever seu principal título, Uma temporada no inferno, considerada uma obra prima por conta de seus versos visionários.
Arthur Rimbaud possuía o arquétipo de gênio louco — e ficou conhecido como tal — e, como se não bastasse, também influenciou diversas pessoas consideradas gênios de gerações futuras a sua. Segundo o escritor Henry Miller, eram as suas características — muito a frente de seu tempo — que o colocaram entre os maiores poetas do mundo. De acordo com Miller, Rimbaud foi a última palavra do desespero, da revolta e da maldição: “A poesia deve tudo a Rimbaud, até agora ninguém o superou em audácia e imaginação”, comentou o autor.
A poesia do jovem escritor, além da forma que viveu sua vida, impressionou nomes como Pablo Picasso, Dylan Thomas, Allen Ginsberg, Vladimir Nabokov, Bob Dylan, Patti Smith, Giannina Braschi, Léo Ferré, Van Morrison e Jim Morrison, fazendo do poeta um ícone cultural. Paulo Leminski citava Rimbaud com frequência entre suas influências, dizendo também que “se vivesse hoje, Rimbaud seria um músico de rock”, dizendo também que se identificava com o choque que o jovem causou, não só no meio literário mas também na sociedade de seu tempo: “Ele pasmou os contemporâneos com uma precocidade poética, escrevendo obras-primas entre os 15 e os 18 anos”, apontou Leminski. Arthur Rimbaud se aposentou cedo da literatura e viveu o resto de sua vida viajando — a pé — por três continentes, até a sua morte por câncer, em 10 de novembro de 1891, aos 37 anos.
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Uma temporada no inferno, de Arthur Rimbaud
Segundo Paul Verlaine, que se relacionou romanticamente com Rimbaud por anos, o jovem poeta viveu uma “vida inimitável”. Embora tenha parado de escrever aos 21 anos, o escritor foi uma das principais vozes da poesia mundial, influenciando os autores mais importantes dos séculos XIX e XX. Uma temporada no inferno retrata perfeitamente todos os sonhos inspiradores e os demônios aterrorizantes do poeta, em uma riqueza visceral de detalhes. As poesias levam o leitor até terras distantes, onde habitam devaneios e desejos de isolamento, mas também a busca imensurável de Rimbaud pelo desconhecido e o conhecimento.
Iluminuras, de Arthur Rimbaud
Este livro, editado pela primeira vez em 1886, é o testamento poético do enigma Arthur Rimbaud, um dos maiores poetas de todos os tempos. Iluminuras traz a aplicação definitiva dos seus princípios poéticos e de sua inigualável alquimia verbal.
O barco ébrio, de Arthur Rimbaud
Nesta versão em português de “Le bateau ivre”, O barco ébrio, Rimbaud narra em primeira pessoa a história de Jayro, mas que poderia ser qualquer um de nós. Rimbaud interpreta o mundo, ou tenta se inserir nele, deixando os ventos da costa levarem para o mar, mas sentindo o presságio da modernidade, era que estava próxima de começar.
Correspondência, de Arthur Rimbaud
Um garoto de 16 anos, chegado da provinciana Charleville, trazendo nos bolsos alguns poemas de surpreendente beleza e originalidade, mas que violavam os conceitos estéticos, religiosos e morais da época — assim era Arthur Rimbaud. Nesta obra estão reunidas todas as cartas que Rimbaud trocou por toda a sua vida. O livro traz escritos que vão da adolescência aos últimos dias do poeta, expondo uma vida intensa, partindo desde o jovem brilhante e impertinente que escrevia versos afrontosos, que hoje estão entre osmaiores da literatura moderna, até o homem que conta suas expedições pela África e outros continentes.